Estar presa ao pó das rochas antigas, algures num labirinto de uma gruta, acompanhada pela escuridão húmida do anoitecer, era algo que me faria bem de uma forma desconcertante... errada. Precisava do tempo. Parado. Fixo... Algures perdido e entregue a algum género de invasores substitutos da humanidade. Estou certa de que a essência do deserto seco, por mais estranho que possa soar, seria o meu remédio. A solução para o latejar da minha cabeça oca. Ela pulsa agressivamente contra a minha pele, assimilando-se aos batimentos cardíacos fulminantes que, por momentos, quase transgridem a minha pele ardente pela força do meu pranto.
Os olhos doem-me... pesam-me na têmporas e essa dor alastra-se para a carne viva. Como entrou e em que sentido se dirige não sei, nem nunca saberei face à justificação do meu estado. É assim que fico quando termina e adivinho que a raiva avassala qualquer tentativa de raciocínio que te surja a fim de entender quem eu sou. Ajo de forma errática, sistematicamente. As minhas mãos têm pose de muito e o meu coração deseja apenas tão pouco. Eu não sei como fazer, para onde olhar ou então saber com o que me é permitido sonhar. Há dilemas, há histórias de ficção e incontáveis romances - demasiados para uma mente tão pequena como a minha - dentro da minha cabeça que me fazem desejar tanta coisa. Tanta que nem o mundo, que por ser demasiado real, poderia corresponder. Talvez porque é isso que os actores são... actores (?). Estejam onde estiverem.
A vida passa à frente dos nossos olhos, nem sempre da forma mais correcta e verídica, mas, de alguma das formas... é a versão de alguém. Esteja onde estiver e seja quem for. A morte passa a ser um tema trabalhado com alguma facilidade e as lágrimas fazem parte de cada página. O amor, como esperado, é vivido tão intensamente que era capaz de jurar que era eu quem sofria por aquele ser, o ser que nós amávamos. Eu e Ela. Algum haveria de ser o dia, em que desse a liberdade ao meus dedos, ao lançá-los pelos inúmeros corredores de teclas que descreveriam a minha reacção a uma vida. A um relato... Real ou não, quem se importa? Seria bom viver deles. Pelo menos teria os seus frutos e faziam de mim uma pessoa mais culta e emotiva. (Como se as lágrimas que derramei a cada segundo não bastassem. O que poderá ser mais emotivo que isso?)
Sofri. Estranhamente sofri. Não sei como me deixei ir tão facilmente atrás dela, da personagem. E sei que amanhã este pânico e angústia não estarão mais reflectidos no meu rosto cansado, mas agora relato. Assim como ela o fez, embora eu não tenha todos aqueles diálogos e conflitos interiores do tamanho do mundo para decidir. Sinto-me impotente, uma autêntica espectadora, como se fosse a sua segunda Alma e hospedeira do mesmo corpo que ela. Queria também poder-lhe dizer o que fazer, o que iria suceder e como se precaver para o futuro tão óbvio.
Mas eu estou aqui. E não entendo como a arte da escrita pode ser tão profunda ao ponto de atingir o grau de baralho com que deixou a minha cabeça; Como pode, um ser Humano, ter razões suficientes em três dias, para questionar toda a sua vida para trás? para questionar de que é feito a Humanidade? E a esperança não morre... e a fé atormenta por dúvida sempre ficar. Se...
Agradecimentos: Pedro Ferreira, Bárbara Leal
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