(Exerto nº 2 do meu livro - Depressão de Nanda, Pág.20/21)
"Estava cansada do gosto dos meus lábios. Por mais doce que fosse cada pequena partícula da minha pele, nenhum aroma o poderia trazer de volta, nem mesmo as minhas maçãs rosadas - que ele tanto prezava em manter como se fossem o único pequeno diamante existente neste generoso mundo. Pelo meu rosto a baixo cintilavam indícios da sua ausência. Sentia a inexpressável dor a passear pelos meus olhos, tombando nos meus joelhos onde repousava o meu rosto. Unida a mim mesma, balançava para a frente e para trás, imaginando que, por um suspiro, tudo caminharia sem que precisasse sequer de sair daquele lugar. Poderia eu sentir o sol sem me lembrar do brilho da sua pele? - preferia não arriscar.
Resguardando-me de tudo de que fugia, penteava os meus cabelos de uma forma regular, vezes sem conta, de cima para baixo, fazendo deslizar os dedos suavemente entre cada fio de cabelo, sem os magoar. Agora que sabia o que um pequeno toque poderia causar, a delicadeza tomava conta de mim para onde quer que me virasse. Esta minha sensibilidade reflectia em mim como se espelhos me acusassem. Era óbvio que no vazio o preto me auxiliava, mas quando as horas tomavam conta do dia, eu própria me mostrava para o mundo. Não sei se por não ter outra escolha ou se por indiferença e conformidade comigo própria. Estava determinada a ser aquela pessoa indiferente, sem vida, até que um dia justiça se fizesse e eu voasse!
(…) constatei que uma sombra me rondava, seguindo os meus movimentos, traçando o meu respirar de uma forma tão perfeita que seria correcto dizer que era outro eu… ali projectado naquela parede - a parede azul do meu quarto. Olhei de relance para trás. As cortinas das janelas dançavam agora ao som do vento. Ao pousar os meus olhos exactamente na mesma parede azul da sombra dei por sua falta. Sentia uma insegurança tremenda que já nem na minha apurada visão confiava. Seria o meu desespero por partir? Ou o desespero por alguém que me impeça? Alguém suficientemente mais importante do que qualquer motivo que me faça ir."
Dedicado a Margarida Torres
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Não há palavras que descrevam a não-revolta com o mundo mas sim o sorriso que quero dar.
Mas não entendem, vocês, criaturas jovens do mundo, que não é a revolta que me guia? Não é a revolta que vai ser quem eu sou? Que não é a revolta que me leva a ser uma criatura melhor?
Não! Não há revolta dentro de mim! Apenas mágoa de não ter. Mágoa de não ser como o desejo e o sonho me levam a ser.
Não há mudança a olhos vistos... ela é breve e acontece... reparai naquelas pequenas coisas... é aí que esta na mudança. No pequeno, não no grande!
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